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Dia do Meio Ambiente: ambiente pela metade, quem quer?

Hoje é um dia mais que especial. Aniversário da Vovó Titita, minha mãe, já diz muito. Ela é especial em muitos sentidos e me ensina diariamente sobre muitas coisas que nenhuma faculdade seria capaz.
Su grata a ela pela paciência, pelo carinho, pela dedicação... Mas algo em especial foi ela que semeou em nós, seus filhos - tenho certeza de que posso falar pelo Max - a gostar e valorizar a natureza.

O gosto pelo contato com a terra, colocar os pés na grama, observar as formiguinhas (acho que é hereditário, pois o Caio adora!), contemplar agradecida o pôr-do-sol, são coisas que me fizeram sempre querer conhecer e entender melhor o ambiente em que vivo. Já meus filhos não têm o mesmo contato que eu tinha com animais e plantas, pois vivemos numa cidade que ficou maior, mas não conseguiu manter o mesmo padrão de arborização e, com boa parte da vegetação nativa tendo sido reduzida para dar lugar às construções, os animais nativos também estão procurando outros locais para viver, mas muitos deles morrem nessa procura dentro do ambiente urbano.

Num dia como o de hoje, me preocupo com o código florestal,  com a disputa pela posse da Amazônia que nós brasileiros parecemos não perceber e, portanto, não preocupamos com isso... Me ocorre que a velocidade do andamento dos projetos de tratamento de esgotos para tentaros despoluir grandes rios não seja suficiente para que nos sintamos mais leves e achemos que baste ensinar as crianças a não jogar lixo no chão para que fique tudo 100%.

Precisamos de educação de verdade para que nossos filhos possam conhecer para aproveitar sem detonar, entender e valorizar a natureza.

Ela tem pedido por isso silenciosamente...


Imagem: Traços do que vejo






"Se os rios e as florestas morrerem, os homens também perecerão de modo parcial. Todos nós somos Natureza, somos vida em abundância" (Hammed).

Sustentablidade: Da utilidade dos animais

Como vocês sabem, sou professora de biologia. É um título que guardo com carinho dentro do coração, pois minha família sempre me estimulou, no contato diário, a ter respeito e atitudes que a conservem ou preservem. 

Nos últimos dias tenho participado de alguns debates a respeito da preservação da natureza e as atitudes ecologicamente corretas (sem ser eco-chatas) estão em alta nas redes sociais. Através da @samegui conheci o grupo de discussão do Facebook chamado Vida Sustentável, onde se fala sobre atitudes e conhecimentos que podem colaborar para que se chegue ao objetivo de ter uma vida que, sim, tenha conforto e satisfação, mas sem precisar degradar o meio ambiente.

Imagem: TV Ecológica

Foi pensando hoje enquanto lavava a louça que me lembrei dum texto ótimo, de Carlos Drummond de Andrade, um autor que admiro desde sempre, que pode ilustrar o quanto nosso raciocínio está pautado em um olhar sobre a natureza que precisa ser revisto, senão não haverá como desejar que nossos filhos assimilem os conceitos de sustentabilidade. Não é um problema apenas da escola, já que ela ensina o que a sociedade elege como conhecimento válido e formalmente aceitável.

Talvez muitas de vocês conheçam a coleção de onde foi retirada essa reflexão. Por isso vou compartilhá-lo com vocês e peço que dividam o que vem à mente quando lêem esse texto.

Da Utilidade dos Animais


(Carlos Drummond de Andrade)


Terceiro dia de aula. A professora é um amor. Na sala, estampas coloridas mostram animais de todos os feitios.

 
- É preciso querer bem a eles, diz a professora, com um sorriso que envolve toda a fauna, protegendo-a. Eles têm direito à vida, como nós, e além disso são muito úteis. Quem não sabe que o cachorro é o maior amigo da gente? Cachorro faz muita falta. Mas não é só ele não. A galinha, o peixe, a vaca... Todos ajudam.

- Aquele cabeludo ali, professora, também ajuda?
 
- Aquele?   É o iaque, um boi da Ásia Central. Aquele serve de montaria e de burro de carga. Do pêlo se fazem perucas bacaninhas. E a carne, dizem que é gostosa.
 
- Mas se serve de montaria, como é que a gente vai comer ele?
 
- Bem, primeiro serve para uma coisa, depois para outra. Vamos adiante. Este é o texugo.   Se vocês quiserem pintar a parede do quarto, escolham pincel de texugo. Parece que é ótimo.
 
- Ele faz pincel, professora?
 
- Quem, o texugo? Não, só fornece o pêlo. Para pincel de barba também, que o Arturzinho vai usar quando crescer.
 
Arturzinho objetou que pretende usar barbeador elétrico. Além do mais, não gostaria de pelar o texugo, uma vez que devemos gostar dele, mas a professora já explicava a
utilidade do canguru:
 
- Bolsas, malas, maletas, tudo isso o couro do canguru dá pra gente.   Não falando na carne. Canguru é utilíssimo.
 
- Vivo, fessora?
 
- A vicunha, que vocês estão vendo aí, produz... produz é maneira de dizer, ela fornece, ou por outra, com o pêlo dela nós preparamos ponchos, mantas, cobertores, etc.
 
- Depois a gente come a vicunha, né, fessora?
 
- Daniel, não é preciso comer todos os animais. Basta retirar a lã da vicunha, que torna a crescer...
 
- E a gente torna a cortar?   Ela não tem sossego, tadinha.
 
- Vejam agora como a zebra é camarada.Trabalha no circo, e seu couro listrado serve para forro de cadeira, de almofada e para tapete. Também se aproveita a carne, sabem?
 
- A carne também é listrada? - pergunta que desencadeia riso geral.
 
- Não riam da Betty, ela é uma garota que quer saber  direito as coisas. Querida, eu nunca vi carne de zebra no açougue, mas posso garantir que não é listrada. Se fosse, não deixaria de ser comestível por causa disto. Ah, o pingüim? Este vocês já conhecem da praia do Leblon, onde costuma aparecer, trazido pela correnteza.Pensam que só serve para brincar?   Estão enganados.Vocês devem respeitar o bichinho.   O excremento -  não sabem o que é? O cocô do pingüim é um adubo maravilhoso: guano, rico em nitrato. O óleo feito com a gordura do pingüim...
 
- A senhora disse que a gente deve respeitar.
 
- Claro. Mas o óleo é bom.
 
- Do javali, professora, duvido que a gente lucre alguma coisa.
 
Javali - imagem: http://www.culturamix.com
- Pois lucra. O pêlo dá escovas de ótima qualidade.                   
 
- E o castor?
 
- Pois quando voltar a moda do chapéu para homens, o castor vai prestar muito serviço.   Aliás, já presta,com a pele usada para agasalhos. É o que se pode chamar um bom exemplo.
 
- Eu, hem?
 
- Dos chifres do rinoceronte, Belá, você pode encomendar um vaso raro para o living de sua casa. Do couro da girafa, Luís Gabriel pode tirar um escudo de verdade, deixando os pêlos da cauda para Teresa fazer um bracelete genial. A tartaruga-marinha, meu Deus, é de uma utilidade que vocês não calculam.   Comem-se os ovos e toma-se a sopa: uma de-lí-cia.   O casco serve para fabricar pentes, cigarreiras, tanta coisa...  O biguá é engraçado.
 
- Engraçado, como?
 
- Apanha peixe pra gente.

- Apanha e entrega, professora?

- Não é bem assim.Você bota um anel no pescoço dele, e o biguá pega o peixe mas não pode engolir. Então você tira o peixe da goela do biguá.

- Bobo que ele é.

- Não. É útil. Ai de nós se não fossem os animais que nos ajudam de todas as maneiras. Por isso que eu digo: devemos amar os animais, e não maltratá-los de jeito nenhum. Entendeu, Ricardo?

- Entendi. A gente deve amar, respeitar, pelar e comer os animais, e aproveitar bem o pêlo, o couro e os ossos.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Da utilidade dos animais. In: Para Gostar de Ler - vol. 4. São Paulo: Ática, 1988.

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