"Onde está a mãe dessa guria"?

Ontem fui cuidar um pouco da aparência, porque só da alma não dá. Fui ao salão de beleza e lá sempre tem um rádio e/ou uma TVzinha ligada e acabo sabendo também do noticiário extraoficial do bairro. Pois o burburinho estava enorme; conforme noticiado em todos os meios de comunicação, foi cumprida a ordem de apreensão de materiais com pornografia e maus tratos de crianças e adolescentes em vários estados do nosso país. Infelizmente, muitas fitas, CDs e DVDs foram encontrados num apartamento vizinho e, num desses boatos que depois virou notícia, parece que tinha uma história de adolescentes brincando de se alguém perdesse uma aposta, teria de "pagar"uma prenda sexual ao vencedor.


Dizia a história que depois vi no noticiário, que tratava-se de um rapazinho de 16 anos e uma jovenzinha de 14 que estavam diante duma webcam e suas peripécias estavam disponíveis para quem acessasse algum site.


Vem agora a pergunta do apresentador local: - Onde está a mãe dessa guria?
Pode até ser um questionamento inicial, que eu ampliaria para: - a família dos adolescentes sabe onde eles andam, com quem e o que estão fazendo? Eles orientam, educam ou se interessam pela rotina dos dois, ou acreditam que à 01h30min da manhã eles estão dormindo na casa de amigos?


Não consigo deixar de pensar em pais que conheci e que sim, eram participantes ativos e muito interessados pela vida e as amizades de suas crias, mas que volta e meia eram enganados pelos filhos, que combinavam de dizer que estavam num local, indo imediatamente para outro após os pais confirmarem sua presença ou os levarem até a casa dos ditos amigos.


Orientação faz diferença, com certeza. Vejo isso no comportamento dos meus sobrinhos. São adolescentes que dialogam com seus pais e gostam de estar na sua presença, de viajar e participar de programas familiares, ainda que tenham muitos convites de amigos e participem de sua rede social, seja escolar ou não.


Mas nem sempre o cuidado, o carinho e o diálogo são suficientes... E aí, como agir?


Ouvi falar muitas coisas preconceituosas, como por exemplo"só podem ser filhos de pais separados" (os exibicionistas da webcam), ou que "esse mundo está perdido" ou "ela deve ter sido enganada pelo menino" - será? 

Acho que a impulsividade, a curiosidade e o interesse pelo sexo é natural em adolescentes e isso independe de gênero. Assim como a inteligência para armar esse encontro e exibi-lo, pelo acesso à tecnologia. Assim como também percebo toda uma valorização da erotização muito precoce em materiais culturais, como programas de TV, músicas e publicações. E as crianças pequenas, se não selecionamos, acabam tendo contato e achando que é normal agir como adolescentes, que não são!


Fiquei sabendo já faz algum tempo que há uma "brincadeira" chamada sexting, que poderíamos resumir como mensagens via telefone móvel como mensagens de teor sexual, como fotos de partes íntimas ou vídeos, como forma de atrair as pessoas por queme stão interessadas.


Além do estímulo à pornografia infantil, soube que essas mensagens levam à competição para ver quem tem mais acessos, quem é a pessoa mais ousada, mais bonita, sensual etc.


Me preocupa muito tudo isso e acredito que a melhor forma de lidar com tudo isso é dar limites em outros aspectos, não apenas de presentear crianças com celulares e computadores, e dialogar bastante e francamente com os filhos...Acho que exemplos familiares de casais que se tratam com carinho e se preservam ajudam pra caramba também. E fico torcendo para que eles entendam o recado e façam da sua vida sexual algo saudável e privado, tratado com respeito e responsabilidade consigo e com o/a parceiro/a.

Ouvi de uma amiga um comentário que achei bem bacana. A filha dela tem 13 anos e disse que um colega aproveitou o recreio na escola para participar de uma rodinha onde estam mais ou menos umas 7 meninas. Algumas haviam dado os primeiros beijos, outras ainda não. E o menino chegou dizendo que queria brincar de ser a Hebe (apresentadora de TV, famosa por dar "selinhos" em seus convidados para o programa). E que saiu distribuindo bitocas, ao que ela e uma colega teriam se afastado.

Quando a mãe perguntou o que a levou a se retirar da brincadeira proposta pelo amigo, ela disse: - Não quero que meu primeiro beijo seja algo coletivo, banal. Quero que seja um momento meu e de alguém especial.


Ao ouvir isso, fiquei feliz, pensando que sim, há como a educação fazer diferença.


O que vocês acham disso tudo?



Separando o que é nosso do que é dos outros

Já comecei a fazer terapia algumas vezes. No início é uma coisa meio esquisita, falar de coisas íntimas com alguém que não tem nada a ver com qualquer coisa que tenha vivido, não conhece os detalhes das minhas histórias nem os personagens, mas também alguém que não deixará ser conhecido a não ser profissionalmente.

E aí, já abandonei algumas vezes, como parte do meu eterno processo de desejar estar no controle da situação. Daquela coisa incontrolável de tentar fazer tudo certinho, de conseguir fazer algo funcionar bem, de ser aprovada e também de me aprovar, de conseguir superar as próprias expectativas.


Mas pela primeira vez estou parando pra pensar no que é minha carga, no que é cobrança dos outros ou o que eles pensam de mim e se isso deve ser preocupação minha... Ok, tem coisas que qualquer um dos bons amigos já deve ter dito e eu devo ter ouvido, mas não consgui praticar.

Se colocar como prioridade pra quem sempre colocou os outros à frente de si mesma parece um crime, um pecado; é realmente complicado de fazer. Mas não deve ser impossível, só que pode ser bastante sofrido. Até porque a gente cresce internalizando que ser mãe é padecer no paraíso... Olha que absurdo!


Ser mãe tem suas demandas, batalhas, situações-limite, barreiras e conflitos com certeza, mas não deveria ser sinônimo de sofrimento, de abrir mão da própria felicidade, privacidade ou de viver coisas bacanas.

Tem gente que ama; tem pessoas que confundem amar com não querer ficar sozinho, com medo ou proteger tanto os seres amados que chegam a sufocar. Não quero estar entre os últimos. Mas sei que posso fazer isso e me tornar autoritária.


Pensar a respeito dos comportamentos que não são bacanas, que boicotam relacionamentos, que são repetições do que aprendemos com exemplos ou que temos porque é a forma que encontramos para nos sentirmos aceitos...


Por outro lado, temos coisas bacanas que nem percebemos, que desvalorizamos ou banalizamos, que não conseguimos perceber e que às vezes precisamos dizer para nós mesmos. E aí entra a terapia. Pra que consigamos dizer pra nós mesmos, direcionados pela competência de um especialista em sentimentos(!), aquilo que estamos precisando urgentemente ouvir pra podermos crescer.


Tem horas em que questiono tudo isso e tenho vontade de sair correndo, porque é a minha prepotência dizendo que consigo dar conta de tudo e de todos. Que abraçando o mundo eu me sinto melhor, uma pessoa boa, um ser mais "humano".


Pensar nas coisas da gente é egoísmo? - Acho que estou aprendendo aos pouquinhos que não...

Fotos da apresentação: dia dos avós

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