Mostrando postagens com marcador terapia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador terapia. Mostrar todas as postagens

Modelo de Mãe #fail - mea culpa

Quando pensava em que tipo de mãe eu gostaria de ser, não tinha dúvidas: a que daria conta de tudo. Que não precisaria cozinhar, mas o saberia muito bem; que teria tempo para brincar com os filhos sem deixar nenhuma de suas outras atividades mal-feitas, a casa ficaria organizada, que teria a paciência que faltou à minha mãe ou que seria tão boa quanto ela, porque a minha mãe é boa em muito do que faz. Seria a melhor amiga da minha filha.  Conseguiria trabalhar, estudar e ser mãe amorosa sem perder qualidade de vida. Seria "safa" e trocaria pneu, teria um corpinho de sílfide,  com tempo pra namorar o marido, enfim, seria um protótipo de perfeição.

http://ziraldo.blogtv.uol.com.br/
Esse modelo de altíssima exigência é a minha cara. E cada vez mais tenho tentado refletir sobre até que ponto o modelo de mãe que criei pra mim tem sido útil.

Li vários dos livros de "sobre como" educar crianças, busquei nos mais experientes os caminhos para uma maternidade plena, feliz. Eles em parte muito me ajudaram. Em alguns momentos, atrapalharam bastante, porque as receitas não funcionam do mesmo modo com pessoas diferentes. Então me atrapalhei. #fail

Tive depressão pós-parto ("como assim, se ela queria taaanto ter filhos?"); estrias mesmo com tanto óleo de amêndoa e hidratantes; os partos não consegui que fossem normais apesar da dilatação de 9cm e das contrações induzidas porque as crianças ficaram em posições que poderiam prejudicar a saída; não conseguia relaxar e dormir mesmo quando a Larissa estava ressonando, porque tinha receio de não atendê-la e ela sentir que tinha uma mãe relapsa.

Com o tempo, o nível de exigência que eu tinha também estava sendo repassado à minha filha. Ela falou cedo, caminhou sozinha no dia do aniversário do vovô, adaptou-se em escola no priemiro dia, me dizendo que "escola era lugar de criança, que eu fosse embora" e nunca teve retrocessos nesse sentido.

Mas eu também sempre falei com ela de igual pra igual e dei muitas explicações; estive muito esgotada de tanta dedicação (será que ela já pediu por isso?); me comportei como uma mãe-missionária, como comentei no post da @ctlongo (Calu) na Rede Mulher e Mãe, que se via como o esteio da família, que colocava a família como prioridade e estava me posicionando do mesmo modo que sempre vi minha mãe fazer: eu que sei fazer isso ou aquilo, como cuidar das crianças e acabei em muitas ocasiões podando as iniciativas do Alemão.

Assim, me tornei uma pessOa ainda mais crítica do que já costumo ser. Fiz bullying comigo mesma, sempre achando que não era boa o suficiente. Insatisfeita, triste, tinha a sensação de não estar nunca no eixo e voltei a adoecer da alma. E banho tomado, dentes escovados, consultas médicas em dias tinha de ser o suficiente.

O tempo foi passando e eu fui me tornando cada vez menos mulher, esposa, companheira. E cada vez mais mãe. Até do marido, embora nunca tenhamos nos chamado de pai e mãe a não ser quando queremos nos referir um ao outro para as crianças. 



Fez falta ser mais mulher, profissional, mas posso dizer que não me lembro de ter deixado de ser amiga - pelo menos em alguma coisa eu posso dizer que me sentia estar "bem na foto".

Aí vem um outro post que complementa o da Calu, no mesmo site e, lá, a Glau (@BlogCoisaDeMae) fala que está em crise com ser "apenas" mãe e perder suas outras identidades. Já faz um ano que estou na batalha por resgatar todas as outras Ingrid que eu sou, através da terapia. E é uma luta constante, nada fácil. Em outros momentos fugi da terapia dando mil desculpas.


Gera ansiedade sair do compportamento padronizado ao longo de 35 anos e que repassei à minha filha, que já está entrando no mesmo esquema de eterna insatisfação, de cobranças por uma dedicação ou comparações com outras pessoas que parecem não ter fim.


Por mim e por ela é que estou buscando fazer diferente e me sentir menos cativa das escolhas que fiz. Flexibilizar e remodelar as coisas. 


Nesse momento em que estamos todos nos readaptando a ter mãe que também trabalha profissionalmente, vejo que a minha pequena está dividida. Ela quer a mãe com 100% de dedicação, mas sente orgulho das coisas que compartilhamos sobre como é bom ter uma atividade que se goste de fazer, além de cuidar da família.


Imagem: http://www.pititi.com
Me sinto culpada, em alguns momentos muito impaciente e ansiosa, mas bem menos do que quando era só mãe. O desafio está posto, procurar um equilíbrio.        

Separando o que é nosso do que é dos outros

Já comecei a fazer terapia algumas vezes. No início é uma coisa meio esquisita, falar de coisas íntimas com alguém que não tem nada a ver com qualquer coisa que tenha vivido, não conhece os detalhes das minhas histórias nem os personagens, mas também alguém que não deixará ser conhecido a não ser profissionalmente.

E aí, já abandonei algumas vezes, como parte do meu eterno processo de desejar estar no controle da situação. Daquela coisa incontrolável de tentar fazer tudo certinho, de conseguir fazer algo funcionar bem, de ser aprovada e também de me aprovar, de conseguir superar as próprias expectativas.


Mas pela primeira vez estou parando pra pensar no que é minha carga, no que é cobrança dos outros ou o que eles pensam de mim e se isso deve ser preocupação minha... Ok, tem coisas que qualquer um dos bons amigos já deve ter dito e eu devo ter ouvido, mas não consgui praticar.

Se colocar como prioridade pra quem sempre colocou os outros à frente de si mesma parece um crime, um pecado; é realmente complicado de fazer. Mas não deve ser impossível, só que pode ser bastante sofrido. Até porque a gente cresce internalizando que ser mãe é padecer no paraíso... Olha que absurdo!


Ser mãe tem suas demandas, batalhas, situações-limite, barreiras e conflitos com certeza, mas não deveria ser sinônimo de sofrimento, de abrir mão da própria felicidade, privacidade ou de viver coisas bacanas.

Tem gente que ama; tem pessoas que confundem amar com não querer ficar sozinho, com medo ou proteger tanto os seres amados que chegam a sufocar. Não quero estar entre os últimos. Mas sei que posso fazer isso e me tornar autoritária.


Pensar a respeito dos comportamentos que não são bacanas, que boicotam relacionamentos, que são repetições do que aprendemos com exemplos ou que temos porque é a forma que encontramos para nos sentirmos aceitos...


Por outro lado, temos coisas bacanas que nem percebemos, que desvalorizamos ou banalizamos, que não conseguimos perceber e que às vezes precisamos dizer para nós mesmos. E aí entra a terapia. Pra que consigamos dizer pra nós mesmos, direcionados pela competência de um especialista em sentimentos(!), aquilo que estamos precisando urgentemente ouvir pra podermos crescer.


Tem horas em que questiono tudo isso e tenho vontade de sair correndo, porque é a minha prepotência dizendo que consigo dar conta de tudo e de todos. Que abraçando o mundo eu me sinto melhor, uma pessoa boa, um ser mais "humano".


Pensar nas coisas da gente é egoísmo? - Acho que estou aprendendo aos pouquinhos que não...

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...