Nos dias de hoje, talvez como nunca antes, é preciso dizer: estudar vale a pena. Nos dias de hoje? Como assim?
Vejo muitos colegas professores desmotivados; vários reclamando que a tecnologia está tomando o seu lugar; outros ainda, dizem que a escola não apresenta nada de novo no cenário mundial e que é uma luta convencer as crianças e os adolescentes de que existe algo interessante nisso.
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Também observo crianças frustradas diante de tarefas enfadonhas, brigas por não conseguir fazer a letra cursiva, por ver que desafios novos poderiam ter surgido entre o tempo em que eu estava no que hoje é conhecido por ensino fundamental e o modelo atual.
Mas, como eu sou brasileira e não desisto nunca, vejo também que essa crise em relação aos valores agregados ou não pelo ensino às vidas das pessoas serve para olharmos para que tipo de sociedade gerou esse padrão de educação.
Ontem tive a feliz experiência de conhecer a Escola Estadual de Ensino Fundamental Aberta Ayrton Senna da Silva, que fica no bairro Santo Antônio, aqui em Porto Alegre. Ela é voltada para atender à demanda da comunidade e deve ter lista de espera, pois atende 80 alunos a partir de 10 anos, com defasagem idade-série e muitas em situação de risco (envolvidas em tráfico ou uso de drogas, violência doméstica, enfim...), encaminhadas principalmente pelo Conselho Tutelar.
É uma realidade diferente da que conheci como criança, como professora e que consigo proporcionar aos meus filhos. Uma escola em que cada profissional, voluntário e aluno é dedicado de corpo, alma e mente focados num objetivo que supera estar entre os melhores resultados do IDEB.
Nessa escola, o diretor abriu seu coração e contou sua história: no interior de uma cidade já interiorana do Rio Grande do Sul, ele conheceu o que era escola. Um professor para em torno de 100 alunos, de todas as idades e desenvolvimentos diferentes. Disse: - Não sei nem como aprendi a ler!
Entre as muitas coisas que ele contou, foi que, ao concluir o antigo Ginásio, acabou se tornando professor, sem formação. Assumiu turma, sem experiência, mas com muita vontade de fazer diferença na vida daquelas pessoas. E foi num curso de férias que acabou cursando magistério... E lá foi que aprendeu a escrever com letra cursiva e legível.
Fiquei empolgada e emocionada com as ações e a história de vida do prof. Adroaldo que, ao final, contou: - Quando o irmão do meu bisavô era professor, a escola não era muito distante do que vejo hoje. Mas continuo querendo fazer a diferença.
E ele faz, com certeza, ao acolher como um líder aquela meninada que tem oportunidade de fazer oficinas com os professores, que além de titulares são oficineiros. Com apoio do voluntário de marcenaria, que ensina os meninos um ofício. E também, ao proporcionar semanalmente um investimento na autoestima e na capacitação de seus colegas educadores com palestras, cursos, debates...
Esses professores percebem em suas vidas que #estudarvaleapena.
E, voltando à minha rotina, por dias realmente vejo que algumas atividades propostas pela escola podem, sim, ser chatinhas, mas se encaixam em algum objetivo, só que também dá pra fazer diferente. E, trabalhando com capacitação de professores para trabalhar com tecnologia em sala de aula, especialmente com uso de iPad, vejo que cada vez mais o papel do professor se torna importante.
Imagem: Editora DP&A |
Porque vivemos num mundo em que o capital de giro é a informação - e me perdoe Stuart Hall se eu estiver deturpando as palavras dele - , é aí que entra o professor, para colaborar e facilitar esse movimento de apropriação, internalização, seleção e uso da criatividade em cima de tantos saberes.
Virar enciclopédias, ou pessoas estáticas diante de um computador apenas digitando diante de um buscador, sem saber o que fazer com o conhecimento desumaniza os seres humanos. As pessoas são feitas de atitudes, e crianças e jovens, adultos e idosos precisam atuar no mundo para que ele se torne aquilo que sonhamos ou para que aproximemos o sonho da realidade.
Como mãe, professora e cidadã, cada vez mais creio que, sim, #estudarvaleapena. Não pelo que o diploma proporciona, mas pela vivência. E vocês?
Imagem: South Perth Baptist Church |