Violência para o mundo ver

Hoje me deparei com um vídeo no Portal Terra sobre um pai que manda o filho "destruir" um amigo em uma cena de luta. O vídeo é bem claro e tem narração informando que o pai foi preso por incitar a violência entre jovens de 16 anos. 

Infelizmente não me surpreendi... Apesar de olharmos para a história humana e dizermos que acreditamos que estamos evoluindo e nos tornando mais civilizados, comportamentos como esse continuam existindo, como em séculos bem distantes. Temos farra do boi, touradas, rinha de galos, brigas de pitbulls... Coisas que há quem diga "até aí tudo bem" por não singificarem maus tratos a seres humanos. Mas se considerarmos que as pessoas envolvidas com esse tipo de "divertimento" se excitam com cenas de violência explícita, que convidam mais pessoas para fazer parte de seu "clube"... esse é um ponto a questionar.

Mas não acaba por aí. Quem não respeita a vida em geral e se diverte em espetáculos bizarros como esse parece estar extravasando uma raiva muito grande, precisa ver sangue jorrar pra lidar com seus fantasmas, suas dores, sei lá, vira sádico invertendo os valores.

A gente se espanta com cenas de violência de noticiários e tenta proteger nossos filhos de assistir? Mas quando pensamos que no seio da família é onde ocorre todo o tipo de violência, como já citei em postagens mais antigas, acho que precisamos levar em conta que pequenos gestos do dia a dia podem ser violentos também. Palavras, críticas, certos castigos e descargas de frustrações que são a prova viva da falta de argumento, de diálogo.

Nenhuma violência tem justificativa, mas por muitas e muitas vezes reproduzimos os modelos que vivemos na infância e que víamos que não davam certo. Continuamos frustrados, mas não conseguimos superar o modelo ultrapassado... Não sou especialista, mas acho muito bacana pensar na responsabilidade que, como pais, mães, tios, tias, padrinhos e madrinhas temos com colocar limites já na criança pequena que, por não ter como explicar o que sente, arranca um brinquedo das mãos do amigo, dá um tapa na irmã poque sente ciúmes ou cospe porque se sente frustrado com uma negativa a um pedido ou porque sim, é hora de ir dormir.

Uma criança que conhece limites provavelmente vá crescer lembrando que não é a única no mundo e que outras pessoas também precisam ceder em situações. Que cada um de nós faz concessões pela harmonia da casa e de outros ambientes que freqüentamos.

Por isso estou publicando o texto que segue, um convite da nossa amiga Ana Cláudia Bessa, (@anaclaudiabessa‎) à reflexão. Chama- se Carta aberta às mães e pais:

Que futuro terão nossos filhos?
Aproveitamos o sentimento de indignação e tristeza que nos abalou nos últimos dias para convoca-los para uma mobilização pelo futuro das nossas crianças. A tragédia absurda ocorrida na escola em Realengo (Rio de Janeiro) é resultado de uma estrutura complexa que tem regido nossa vida em sociedade. O problema vai muito além de um sujeito qualquer decidir invadir uma escola e atirar em crianças. Armas não nascem em árvores.
A coisa está feia: choramos por essas crianças, mas não podemos nos deixar abater pelo medo, nem nos submeter aos valores deturpados que têm regido nossa sociedade propiciando esse tipo de crime. Não vamos apenas chorar e reclamar: vamos assumir nossa responsabilidade, refletir, trocar ideias e compartilhar planos de ação por um futuro melhor. Então, mães e pais, como realizar uma revolução que seja capaz de mudar esses valores sociais inadequados?
Vamos agir, fazer barulho, promover mudanças! Acreditamos na mudança a longo prazo. Precisamos começar a investir nas novas gerações: a esperança está na infância. Vamos fazer nossa parte: ensinar nossos filhos pra que façam a deles.
Se desejamos alcançar uma paz real no mundo,
temos de começar pelas crianças. Gandhi
O que estamos fazendo com a infância de nossas crianças?
Com frequência pais e mães passam o dia longe dos filhos porque precisam trabalhar para manter a dinâmica do consumo desenfreado. Terceirizam os cuidados e a educação deles a pessoas cujos valores pessoais pensam conhecer e que não são os valores familiares. Acabamos dedicando pouco tempo de qualidade, quando eles mais precisam da convivência familiar. Assim, como é possível orientar, entender, detectar e reverter tanta influência externa a que estão expostos na nossa longa ausência? Estamos educando ou estamos nos enganando?
O que vemos hoje são crianças massacradas e hiperestimuladas a serem adultos competitivos desde a pré-escola. Estão constantemente expostos à padronização, competição, preconceito, discriminação, humilhação, bullying, violência, erotização precoce, consumo desenfreado, culto ao corpo, etc.
O estímulo ao consumo desenfreado é uma das maiores causas da insatisfação compulsiva de nossa sociedade e de tantos casos de depressão e episódios de violência. Daí o desejo de consumo ser a maior causa de crime entre jovens. O ter superou o ser. Isso porque a aparência é mais importante do que o caráter.
Precisamos ensinar nossos filhos que a felicidade não está no que possuímos, mas no que somos. Afinal, somos o exemplo e eles repetem tudo o que fazemos e o modo como nos comportamos. E o que ensinamos a nossos filhos sobre o consumo? Como nos comportamos como consumidores? Onde levamos nossos filhos para passear com mais frequência? Em shoppings?
Quanto tempo nossos filhos passam na frente da TV? 10 desenhos por dia são 5 horas em frente à TV sentados, sem se movimentar, sem se exercitar, sendo bombardeados por mensagens nem sempre educativas e por publicidade mentirosa que incentiva o consumo desde cedo, inclusive de alimentos nada saudáveis. Mais tempo do que passam na escola ou mesmo conosco que somos seus pais!
Porque os brinquedos voltados para os meninos são geralmente incentivadores do comportamento violento como armas, guerras, monstros, luta? A masculinidade devia ser representada pela violência? Será que isso não contribui para a banalização da violência desde a infância? Quando o atirador entrou na escola com armas em punho, as crianças acharam que ele estava brincando.
Nós cidadãos precisamos apoiar ações em que acreditamos e cobrar do Estado sua implementação, como o controle de armas, segurança nas escolas, mudança na legislação penal, etc. Mas acima de qualquer coisa precisamos de pessoas melhores. Isso inclui educação formal e apoio emocional desde a infância. É hora de pensar nos filhos que queremos deixar para o mundo, para que eles possam começar a vida fazendo seu melhor. Criança precisa brincar para se desenvolver de forma sadia. É na brincadeira que elas se descobrem como indivíduos e aprendem a se relacionar com o mundo.
Nós pais precisamos dedicar mais tempo de convivência com nossos filhos e estar atentos aos sinais que mostram se estão indo bem ou não. Colocamos os filhos no mundo e somos responsáveis por eles! Eles precisam se sentir amados e amparados. Vamos orientá-los para que eles sejam médicos por amor não por status, que sejam políticos para melhorar a sociedade não por poder, funcionários públicos por competência e não pela estabilidade, juízes justos, advogados e jornalistas comprometidos com a verdade e a ética, enfim!
Precisamos cobrar mais responsabilidade das escolas que precisam se preocupar mais em educar de verdade e para um futuro de paz. Chega de escolas que tratam alunos como clientes.
Não temos mais tempo a perder. Ou todos nós, cedo ou tarde, faremos parte da estatística da violência. Convidamos todos a começar hoje. Sabemos que não é fácil. E alguma coisa nessa vida é? Vamos olhar com mais atenção para nossos filhos, vamos ser pais mais presentes, vamos cobrar mais da sociedade que nos ajude a preparar crianças melhores para um mundo melhor! Nossa proposta aqui é de união e ação para promover uma verdadeira mudança social. A mudança do medo para o AMOR, do individualismo para a FRATERNIDADE e para a EMPATIA, da violência para a GENTILEZA e a PAZ.

Carta escrita por:
Ana Cláudia Bessa
Cristiane Iannacconi
Letícia Dawahri
Luciana Ivanike
Monique Futscher
Renata Matteoni


 

A mãe real, sem realeza - parte 2

Não, eu não vim agora desdizer tudo o que disse antes. Não sou a metamorfose ambulante. Eu vinha de muitos dias de stress, isso sim. Pelo menos 2 semanas de noites mal dormidas, de cansaço acumulado. E, como de costume, fica tudo mais angustiante e dramático nessas situações. Minha médica talvez diga que o pior veneno pra mim é a privação de sono, que deixa a pessoa aqui bem louca, em dia de fúria acionada. Tem dias em que acho que ter mãe bipolar é uma vantagem para as crianças (nem que seja pela flexibilidade que precisam ter, ou pelo fato de que tendo a colocar pra fora o que sinto sem rodeios e isso pode ser um bom exemplo - será?!). Noutro, penso que deixo marcas profundas - positivas e nem tanto - e que eles são o que são apesar de mim.

Eu poderia fazer muitos posts sobre a maternidade real, a que consigo viver e aproveitar com meus filhos. Mas resolvi pensar comigo mesma sobre coisas que faço bem, porque afinal de contas viver só me detonando... qual a finalidade? Vendo os filhos que tenho, posso ver que temos um saldo bem positivo:

  • Meus filhos são apresentados a alimentos diversos e saudáveis. Mas, como a Larissa já tem 7 anos e conheceu algumas tranqueiras e de poucas delas gostou, o Caio acabou conhecendo bem antes do que eu gostaria. Ambos adoram pastelina, que eu tive vontade durante toda a gestação deles e quando encontram isso na casa dos avós... bem, o Caio nem janta. Mas não gostam de refrigerantes, adoram frutas e sucos, bebem muita água e preferem comida caseira. Se forem ao Habbib's ou ao Mac Donald's (1 vez por quadrimestre?) é pra brincar e pedem água de côco ou suco e as batatinhas, que não conseguem comer um pacotinho juntos. 
 
  • Eles confiam nos pais e a Larissa especialmente consegue abrir o coração sobre o que a incomoda ou magoa com naturalidade, escolhendo geralmente momentos em que estamos nós duas indo pra escola ou sozinhas para me abrir o coração e perguntar como acha que pode resolver algum perrengue. Mesmo quando sabe que pode resultar num "prestenção", ela conta.

  •  Nós brincamos juntos. Isso aprendi com a minha mãe, não na faculdade nem nos livros. E isso foi um diferencial na minha vida que espero que seja nas deles também!  

  • Quando morávamos longe, víamos por poucos dias nossos pais, irmãos, primos e, ainda assim, conseguimos que se estabelecesse um forte vínculo entre nossa filha e eles. E isso foi fundamental em momentos difíceis e para que aproveitássemos os bons momentos também.

  • Desde a saída da maternidade os dois foram para seus quartos e lá permanecem, mas tivemos fases de dormirem conosco, ou nós irmos pros seus quartos porque todos nós queríamos ou precisávamos, a despeito da opinião dos "especialistas" já que especialistas em filhos costumam ser os pais! Se isso fosse pra fazer passar um medo, por que não ficaria na bicama e dormiria de mãos dadas com a Lalá?

  • Deixei a profissão sem muita culpa, mas quando comecei a sentir falta de trabalhar também não tive dramas. O problema era outro, de não querer, nesse momento, voltar a trabalhar exatamente no que fazia antes, então a busca por saber como fazer diferente ou repensar toda a escolha profissional mexeu com outras histórias e a terapia está ajudando MUITO!

  • Hoje trabalho conciliando a convivência com as crianças. E tenho conseguido trabalhar com o maridão em algumas coisas, como queria também. Não abandonei o que aprendi na faculdade, estou tendo a chance de experimentar coisas diferentes e contribuir para um novo momento nosso, familiar e empresarial. E, estando realizada com isso, em outras áreas terei também energias positivas para motivar as outras áreas da minha vida. Isso só poderá ter reflexos bacanas para os 2 filhotes!

  • Me analiso muito, talvez até demais. Pelo menos, se erro, consigo perceber... 




Haveria muito mais a listar, mas o objetivo não é o auto-elogio, só o colocar a cabeça no lugar... Mas uma coisa é certa: devo me perdoar por não ser a mãe que dizem por aí afora que devemos ser. Faço o possível para ser a melhor mãe que posso ser. Falha, cheia de turbilhões de emoções, contraditória, mas amorosa e apaixonada pela maternidade e pelos meus filhos. Falando nisso, uma entrevista na Revista Crescer aborda o tema e achei que seria bacana compartilhar.  Basta clicar aqui.

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