Medo de Envelhecer?

A vida passa para todos nós. Não. Talvez o certo seja dizer que o tempo passa para todos nós, enquanto para alguns a vida passa.

Enquanto ela se movimenta, há quem espere que a felicidade venha, embrulhada em pacote de papel celofane, brilhante, com laço vermelho de fita, para ser aberta com o kit completo: sem esforço ela se instala, porque a felicidade tem de ser assim, sem erros, sem falhas, sem altos, baixos, curvas, desvios nem barreiras. 
 
Imagem: Blog Diário da Paddy
Acho que parte da culpa disso é a educação influenciada por novelas com finais lacrimosos e beijos técnicos e contos de fadas que contavam ou líamos aos suspiros quando crianças. Aquele final feliz prometido que nunca vem. 

Esses dias li uma entrevista nas páginas amarelas da Revista Veja em que uma estudiosa francesa citava que as mulheres estão cada vez mais sendo pressionadas a serem perfeitas e supermães (ops, já falei sobre isso aqui!) como fruto da cultura vigente. Ela tem suas teorias sobre o papel do feminismo como movimento em tudo isso, mas pra quem convive diariamente com as demandas próprias e familiares, sociais, empregatícias, financeiras de tudo isso, pode mesmo gerar culpa.

Assim, o tempo pode mesmo passar dando espaço para que haja um "crepe" emocional, um momento de turbulência,de não saber lidar com isso tudo. 

Há quem pire. Também há quem não aceite que alguém sofra com isso, achando que o negócio é ir patrolando tudo porque não dá tempo pra repensar, pra sofrer, pra fazer uma pausa e talvez rever suas escolhas e mudar.

Sim, optar por olhar pro interior e escolher mudar pode ser sofrido. Pode levar tempo, mais do que o previsto, afinal cada pessoa tem o seu ritmo. Mas mudar é bom e então temos condições de curtir a beleza de cada idade, de cada instante, se apostamos que a vida é um ciclo e merece ser sorvida com gosto.

Ontem, aproveitando o 6º Festival de Inverno aqui em Porto Alegre, ouvi uma porção de músicas que adoro. Arnaldo Antunes é uma figura muito especial, inteligente, sensível e que consegue fazer rimas inesperadas, simples, que colocam a gente para pensar. 

Numa delas, falava em "Socorro! Alguém me dê um coração...
Que esse já não bate nem apanha
Por favor! Uma emoção pequena, qualquer coisa!
Qualquer coisa que se sinta...
Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva

Algumas almas ficam desesperadas diante do não saber agir, do como mudar, empacando. Travadas, paralisadas de medo.

Outras, no entanto, conseguem superar esta etapa ou nem passam por ela, se jogando na vida com tal vigor, invejável, que conseguem dançar esta outra canção, que é a minha preferida: 






 
 
"Eu quero que o tapete voe
No meio da sala de estar
Eu quero que a panela de pressão pressione
E que a pia comece a pingar
Eu quero que a sirene soe
E me faça levantar do sofá
Eu quero pôr Rita Pavone
No ringtone do meu celular
Eu quero estar no meio do ciclone
Pra poder aproveitar
E quando eu esquecer meu próprio nome
Que me chamem de velho gagá".


Não, meu medo não é de envelhecer. É de nem ir ao bailinho da terceira idade. É de engessar e não conseguir mudar, abrir o coração e nem tomar um chimarrão/vinho/chá/café com as pessoas queridas e poder dizer que temos boas histórias para contar, de tempos idos. Por falta de termos feito algo que valha a pena.


Imagem: Blog Programa Maturidade Feliz

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