Mãe, real, sem realeza - parte 1

Do bagaço dá aproveitar alguma coisa!
"Meu Deus, faz dias que não nos falamos.  Sei que não me esqueceste,  mas deixa que me apresente: aqui quem Te fala é um bagaço de mãe. Uma mãe que está há muito tempo cansada e que, nos últimos dias, sentindo que a bateria  pode arriar novamente, embora mal tenha  me reerguido. Nos últimos dias ando me vendo assim. Corro, corro, às vezes sinto que meu caminhar é como o de uma lesma diante de tudo o que é preciso fazer. Mas continuo tentando. 






A rotina aqui em casa ficou muito afetada com a saída da nossa diarista. Ela nos ajudava muito e, ao dizer de uma hora pra outra, que começaria a trabalhar num restaurante, fiquei como alguém com bolhas nos pés. Desconfortável. Se priorizo organizar a casa, pareço estar deixando as crianças de lado; se fico com as crianças, a casa fica virada. Se trabalho... aff!


Trabalho em casa, como Tu bem sabes; o marido, também. Para as crianças, estar presente e diante de um computador, é preteri-las, com toda a razão. Como elas basicamente usam o computador para brincar, buscam volta e meia participar do que fazemos. Temo que elas pensem que é mais divertido estar com uma máquina do que com elas. Pra mim, é muito claro que não é esse o sentimento, mas ter optado por trabalhar enquanto elas estiverem na escola não tem funcionado, já que tenho ficado bem envolvida com faxina e outras coisas da casa que precisam ser feitas. Então tenho tentado trabalhar depois que as crianças dormem ou, se dá, enquanto elas brincam, ou assistem TV. O bom é que, depois de muito diálogo e negociação, estamos conseguindo montar o escritório. Acho que isso colocará limites em todos nós.


Falando nisso, hoje consegui convencer a Larissa a sair de casa pela manhã. É uma vitória que ela não tenha resistido muito, já que ela contava as horas pra ir pra casa da melhor amiguinha e achava que ficando estirada no sofá com cara de  gatinho sem dono  mudaria alguma coisa. Caminhamos até a praça com os cachorros e o Caio, que adora conduzir o Patrick e o Bob Esponja, está amolado, então reclamava muito dos bichinhos não o obedecerem. 


Mas as crianças gostaram de jogar gravetos pros cachorros buscarem, como estávamos perdendo o hábito de fazer... Andaram de balanço e se penduraram no trepa-trepa, observaram os pássaros e ficaram pensativas sobre a praça sempre ter poucas crianças. 

Aliás, ando me sentindo perdida no meio de tantos pensamentos pra organizar, sabe? Coisas que pareciam certas na educação das crianças estão virando retrocessos, Pai. As crianças andam rebeldes, desde que voltei a trabalhar. Esperava que fosse lidar muito bem com isso, mas agora estar mais arrumada ou menos com cara de mãe (isso existe?) virou motivo de cobranças - da Larissa. E ela resolveu fazer seu protesto andando desarrumada, escabelada,  embora seja bem vaidosa.


Falando em vaidade, Pai, dá uma forcinha... preciso que meus hormônios se reorganizem, urgentemente! Enquanto a endócrino e a psiquiatra debatem o que fazer com minha dosagem hormonal, eu fico engordando mesmo quando não tenho apetite, perdendo cabelos... Se fosse uma capa de livro...


Imagem: Revista Pais e Filhos

... e o que parece tão evidente é que me vejo exausta, impaciente, chegando a ser intolerante em várias ocasiões. Por quê? Porque quanto mais tento dar conta de tudo, mais desafios me aparecem. Acho que devo ter cara de FAZ-TUDO. Talvez eu tenha deixado que pensassem que fosse isso mesmo, uma pessoa capaz de lidar com muitas situações ao mesmo tempo. Inclusive eu acreditava nisso.

Mas a maternidade tem questionado isso e me convidado a repensar a forma como conduzo os projetos de vida. Sempre tentando acertar tenho feito muitas coisas que agora questiono.  Te juro que ontem, na hora em que estava marcada a reunião com a profe do Caio, minha vontade era de estar dentro de um ofurô, cheio de pétalas e velas, som de flautas, num momento de esquecer mesmo que o pequeno estava doente e que vínhamos de madrugadas insones porque ele tem vomitado. Ando tão zureta, que indo pra reunião vi algo inédito: deixei o tanque de combustível ficar tão vazio a ponto de piscar e eu te pedir que me ajudasse a chegar até o posto de gasolina a tempo de o carro não parar no meio do temporal.

Imagem: www.pixmac.com.br


Senti vergonha de orar por isso, meu Deus, mas foi o que fiz. E lembrei de ter lido e ouvido que nunca me deixarias só. Lembrei que os atritos que estava tendo com a Larissa são bobos e que em muitos momentos não teriam acontecido se eu não andasse tão linha-dura. Lembrei que andava me sentindo culpada por não dar conta de tudo e continuar internamente me cobrando pra ser a supermãe (a recaída é óbvia, no modelo de mãe idealizado)... 

Muitas idéias me vieram à mente e nem percebi na hora de quantos perrengues saí ilesa nessas semanas tinhosas que vínhamos vivendo. Cheguei à reunião esbaforida e lá ouvi coisas que acalmaram meu coração. 

Ouvi que o desenvolvimento do meu filho está excelente e que ele assimilou rapidamente o funcionamento da escola com rotinas e combinações, que respeita os amigos e inclusive os chama pra guardar os brinquedos e compartilhar livros de histórias. Que é solidário, participativo e está começando a soltar o verbo...  
Imagem: www.ruadireita.com



Uma certa paz voltou ao meu coração. Porque na verdade, eu sabia disso, mas estava vendo tudo de um modo tão quadradinho, que nem chegava a notar os progressos com condições de festejá-los. Tinha momentos felizes nisso tudo, Senhor, mas não os vivia porque a pressão interna era muito forte. E resolvi esvaziar a pressão me permitindo curtir, antes que explodisse.



Cheguei em casa conversando mais calmamente e comemos cachorro quente em paz. O Caio não quis comer e não insisti, porque descobri que os coleguinhas estão com a mesma virose. Se quisesse só tomar leite estávamos no lucro.

Decidi cancelar o plano de dados do celular. Viver pra verificar recebendo duplamente as mensagens e spams... não quero. Acho muito chato aquele barulhinho do aparelho recebendo mensagens até de madrugada. É preciso se desligar de vez em quando pra não acabar jogando o negócio na privada.


Consegui dormir melhor, depois de assistir uns filmes , um deles falando muito sobre o quanto os pais são importantes para os filhos e tudo o mais que por vezes não nos colocamos no lugar deles... Se chama 'as melhores coisas do mundo' , que é muito bom, me fez lembrar de uma época tão boa... tempos de escola!  Dormi no sofá como criança e acordei disposta... 

Depois da praça, fomos almoçar e comi abobrinha à dorê, polentinha, porque é permitido gostar também, né... e as crianças comeram o que costumam comer, tomaram sucos, elas não estão diferentes dos amigos. Eles são educados, queridos, mas se sentem à vontade pra fazer exceções às regras quando estão em família e pra dizer o que sentem e pensam quando estão conosco. São normais. E é normal que eu tenha dias em que queira mesmo paz e sossego e diga 'que bom, hoje a Larissa vai dormir na casa da melhor amiga', sem me preocupar se ela vai comer só chocolate esticadinho dessa vez.

Mas, sabe, Pai, eu estou me dando conta de que a cobrança é minha, não é dos outros,  eu que sempre tenho esse medo tão grande de errar e acabo por, então, sempre que retornar a esse comportamento. Quando acontecer preciso que me sopres um puxão na orelha e entender que me dedico, mas nem tudo depende de mim, do meu controle ou da minha vontade. Sou a melhor mãe que consigo ser,  mas a vida dos meus filhos e da minha família depende de todos e de cada um. Tenho fé de que isso possa me ajudar a seguir em frente, como um mantra. 



Amém".

Selo bt Anne Rammi
Esta foi minha participação na blogagem coletiva proposta pela Carol Passuello.


Participando da Ciranda dos Pequenos Leitores

Lalá escolheu um livro que fale em viagens, coisa que ela adora!
Meus filhos têm acesso à tecnologia, embora muitas vezes o pai deles diga que estão ficando à margem da sociedade porque eu resisto a comprar videogame. Não, eles não estão. 

Larissa convive com MSN, redes sociais dos pais, skype, webcam... desde que nasceu. Entra nos sites de jogos que gosta com nossa supervisão e sabe selecionar jogos que não sejam violentos. Hoje, ela sabe muito mais do que eu sobre uso do I-Pad. Tem vindo conversar comigo sobre os colegas que têm MP5 (hein?!), porque o celular já sabe que não vai rolar, depois de insistir durante ano e meio comigo.

O Caio, por sua vez, também já está dominando os jogos do I-Pad e sabe que tem Galinha Pintadinha, Xuxa SPB, Palavra Cantada, clipes menos conhecidos no Youtube e muito mais.

Mas é interessante ver como aqui em casa, apesar de todos sermos muito ligados em tecnologia e as crianças perguntarem pelo blog, se algo vai aparecer no FB e coisas do tipo, o livro continua sendo um companheiro dos mais chegados.

Na segunda-feira fui ao sebo que temos praticamente ao lado de casa e lá tem livros muito bacanas, alguns dos quais quero compartilhar com vocês, movida principalmente pelo vuco-vuco que a Ciranda da Leitura gerou em nós, mamães blogueiras, mas também porque embora não tenha me detido muito no assunto, as atividades com recorte, colagem, invenções e brincadeiras continuam acontecendo e eu insisto em dizer que sou uma embaixadora Pritt!

Pois voltando aos livros, na semana passada comprei um livro muito legal, que traz uma culinária à qual não estamos acostumados: "A fabulosa culinária mediterrânea dos contos de Esopo"... Bom, ele é muito, muito, muito interessante. A cada receita, um conto e vice-versa. 

Assim, temos receitas de risoto de pistache com pato, coisas que eu nem imaginava. Ainda não peguei pra fazer nenhuma, pois, como todas já souberam pelo FB, a nossa diarista veio com uma conversa mole de ter sido chamada pra trabalhar num restaurante, nos deixou na mão de quinta pra segunda e nós estamos nos virando em tantos quanto podemos pra dar conta de tudo, já que (espero) até semana que vem a empresa continua sendo na sala de casa. Minha fala está afobada porque tenho vivido mais de 2 semanas justamente assim.

Mas está prometido pra mim mesma que logo vou fazer um dos pratos numa noite romântica com o maridão, que estamos mais que merecendo, precisando urgentemente...

Aí, também nesse sebo, encontrei uns livros infantis que estão fazendo sucesso aqui em casa: o primeiro é "O fantástico mistério de Feiurinha".

Assim que a Larissa viu o livro, praticamente o devorou, em menos de 1 hora. Considerando-se que ela gosta de ler, pode parecer que tudo bem, qual a diferença? - Mas nunca a vi tão encantada com um livro, sendo que ela geralmente traz uns 3 a cada ida à biblioteca -acho que a bibliotecária deu um "presta" nela, porque já estava dando trabalho e ela desanimou um pouco, mas aqui em casa ela continua amando a leitura.  - E ela nunca assistiu o filme da Xuxa baseado nesse livro do autor Pedro Bandeira. Chegou a dizer que ler bastante dá um soninho gostoso e dormiu quando faltavam menos de 10 páginas para acabar a leitura.

Nesses momentos há uma satisfação pessoal. Porque ter filhos leitores numa época em que tudo pode ser encontrado em resumões, como se fosse tudo uma ficha de leitura de cursinho pré-vestibular... é um júbilo! - vejam a pessoa aqui usando expressões meio mofadas, mas que traduzem bem o que sinto.

ABRE PARÊNTESES: A gente lê bastante: notícias, principalmente pela web; revistas, sempre que encontra algo interessante; livros infantis, porque mesmo sabendo ler, a loira e o mano gostam da nossa companhia e de uma interpretação diferente da mesma história ainda que velha conhecida; nos banheiros encontra-se livros com marcadores, por vezes são uns 2 ou 3 - sim, porque tem horas em que a gente dá um tempo pra cabeça se trancando no banheiro por uns minutos pra ler e respirar fundo, pra tocar o dia. FECHA PARÊNTESES

No outro dia a Lalá nem queria saber de tomar café, já despertou se grudando ao livrinho e veio, muito satisfeita, dizer que estava terminada a leitura. Que nunca tinha lido um livro tão grande (para a idade dela) em tão pouco tempo, mas que conseguiu porque o livro era interessante, fazia pensar nas historinhas que já conhece e que ela conseguia imaginar tudo aquilo que era descrito acontecendo!



O que ela ia enviar pra Ciranda da Leitura foi escolhido pra ficar em casa, por 2 motivos: ela quer ler com calma e tem muito a ver com a busca por valorizar a conquista, a questão do relacionamento com a família, o uso do dinheiro, coisas que queremos aprofundar em conversas com a pequena. Chama-se "As cores de Laurinha", do mesmo autor. 

Depois, acho que vamos engatar um terceiro livro, das trigêmeas que perturbam a Bruxa Onilda, sabem? Agora esqueci o nome, mas é um livro a respeito do comprar por comprar, que é um tema bem em voga agora na turminha da Lalá. As crianças começam a ganhar mesada, têm cofres, mas querem porque querem gastar, nao têm noção do uso do dinheiro, nem do esforço para conquistá-lo. - Ah, achei a imagem...

Mas, voltando à questão da leitura em si, ela foi muito importante na minha formação. Era ponto de honra aprender a ler, porque queria poder saber o que tinha de tão interessante nos livros dos meus pais, queria saber das coisas, ler o diário que meu avô mantinha no seu armazém...

Sei que pro meu marido também foi assim e que ele, com 7 anos, leu toda a enciclopédia Conhecer e mais a coleção Os Bichos, de tã curioso que era. Depois chegava na escola cheio de questões que enlouqueciam a professora, mas que eram naturais, dadas as leituras que fazia.

Essa magia da leitura acho que nada na tecnologia poderá substituir. Os I-Pads já disponibilizam livros com imagens que podemos mexer, mas também permitem folhear, porque o prazer da leitura também passa por isso, né, de sentir nas pontas dos dedos que fazemos parte dessa aventura, desse mistério ou drama, assim como de uma comédia em que podemos ser ridículos sem sentir vergonha da crítica alheia.

Então o convite para participarmos da Ciranda da Leitura combinou muito com nossos pequenos leitores.

Caio se lambuzou de Tenaz e Pritt pra mostrar os brinquedos, tema do livro escolhido por ele

Como podem ver, as crianças depois de muito agito para escolherem qual dos livros viajaria pelo Brasil para conhecer novos amiguinhos (porque tem momento em que bate ciúmes de dividir o que é seu, não tinham entendido bem a idéia), resolveram fazer suas atividades. Foi meio em cima da hora de ir pra escola, cronometrado, mas fizeram com gosto e carinho.

No meio de muita correria, minha gente, hoje tirei um tempo pra ser mulherzinha e fazer retoques nas luzes (a raiz estava tinhosa de grande e escura), unhas, sobrancelhas. Parece mentira, mas isso estava virando luxo, minha gente.

Eu sou uma mulher bem comum, não tenho o menor problema com ir ao shopping de havaianas, legging e camiseta, como se estivesse na minha casa. Tenho dias de peruíce em que faço faxina em cima do salto. Mas ficar nesse estado deplorável, ninguém merece. Por isso hoje estou me achando o máximo. Consegui também escrever um post depois de muitos dias e até comentar no facebook. Como diz meu marido, estou equilibrando todos os pratinhos, como aqueles artistas de circo. E comemorando que vou poder chimarrear com a querida Naiara, do blog Little Diva, que voltará a viver na serra gaúcha!

Depois que conseguir jantar (Caio acabou de dormir), vou ver se consigo, também, trabalhar. Ossos meio tortos do ofício de mãe. - Aliás, amanhã tem blogagem coletiva, hein, não percam!!!

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