Saber o que vamos ser quando crescermos é uma questão que acompanha todas as pessoas, desde que nascemos; embora seja uma questão, no título deste post não coloco um ponto de interrogação... Sabem o motivo?
Porque antes mesmo de nascermos há todo um imaginário que se cria em torno da criança que está a caminho; mas não é apenas o sonho dos familiares que influencia a formação da personalidade e as escolhas que uma criança fará (e farão por ela) ao longo de sua vida até que se torne adulta.
Então chegamos ao ponto que eu queria colocar e que é a proposta da blogagem coletiva de hoje: a publicidade é outra das muitas instâncias que nos ensinam quem somos, o que queremos, o que desejamos e onde chegaremos - através do consumo. Ou seja, existe uma pedagogia na publicidade! - Essa afirmação não é minha, na verdade muitos pesquisadores abordam o tema, inclusive lembro de ter estudado a respeito nos tempos do mestrado, em que tomei contato com os estudos culturais (mas aqui quem está falando não é uma especialista no assunto, meu tema de estudo foi outro!).
Fica mais fácil de compreender o quanto isso fica arraigado em nós quando analisamos as propagandas dirigidas ao público feminino e masculino desde a infância: são panelinhas, pias que imitam o serviço doméstico e relatadas como "igual à da mamãe", reforçando que este é um trabalho feminino; ou mostrando apenas meninas cuidando de filhinhas/bonecas, como se esse fosse um universo ao qual as meninas ficassem restritas. Os meninos vão brincar com outro tipo de artefatos (culturais), reforçando de seu lado a sua masculinidade através do uso de armas, automóveis, brinquedos que remetam às aventuras e a satisfação pela superação de desafios que não tomam contato com esse universo feminino. Portanto, os papéis sociais já se mostram bem definidos!
Assim, crescemos incorporando, literalmente, a identidade, aquilo que nos define, como se fosse única, engessada. E, se não questionamos os estereótipos, acabamos por reproduzi-los! As roupas de crianças, então, mostram o quanto as meninas e meninos (talvez menos eles do que elas) se vestem como mini adultos, coisa que me recuso a fazer com minhas crianças. Porém sei que não sou a única influência que elas têm e que em uma sociedade que produz cosméticos, calçados, acessórios, enfim, todo um ambiente propício ao consumo que é estimulado com seu bombardeio via meios de comunicação, é importante questionarmos com as crianças essas posturas fixas, como "menino não usa cor de rosa", "menina não pratica determinados esportes nem usa certas roupas" e muito mais.
Mas, quando nem chegamos à vida adulta, a coisa fica ainda mais cruel! As revistas femininas são sempre com capas de folhas cheias de modelos magérrimas, com expressões felizes, posturas poderosas, de quem está segura de si, coisa que justamente uma adolescente não é em relação ao próprio corpo, que está se desenvolvendo. Então podemos pensar que existe uma ditadura da beleza magra - as estatísticas de cirurgias plásticas em adolescentes são ridiculamente altas, confirmando! -, mas essa ditadura surgiu de onde?
A publicidade não tira da cartola um discurso que não existe, mas se apropria de "teorias" que circulam em nossa sociedade! Os cenários/paisagens, o figurino escolhido vão dizendo quem somos, dando as regras do jogo, normatizando nossas vidas. Mas não somos obrigadas a aceitar quando dizem em uma propaganda de sabão em pó, que o cuidado com as roupas da família cabe à mulher apenas. Ou que a família padrão é aquela em que uma mulher sorridente serve o café da manhã quase flutuando enquanto um homem lê o jornal e as crianças faceiras e educadas, sem bagunçar, refletem o tipo de mãe que devemos ser, que ambiente devemos organizar e que educação devemos dar aos nossos filhos. - Os filhos de vocês são assim? E alguém aí me ensina a flutuar?
Talvez algumas das propagandas que mais me irritem sejam essas:
Mulheres neuróticas por limpeza... Mulheres que vivem em função disso, porém não dão conta de ter suas casas bem cuidadas. A série de propagandas da "Neura", uma personagem sem cor, com postura cansada e escabelada, contrasta com a das mulheres "cuca-fresca", libertas pela existência de um produto inovador e que não demanda esforço para obter os resultados desejados - ahãmmmm.
Quando não estão vivenciando sua neurose, elas estão cercadas de homens, pois parece que, então, "ter tempo para sua vida" significa necessariamente constituir família. - E quem disse que tem de ser assim? Uma mulher só pode ser realizada se tiver marido e filhos?
Ter tempo para a sua vida pode significar isso e muito mais!
Além disso, me incomoda pensar que nunca aparece um homem realizando tarefas domésticas, sendo que, sim, os homens são capazes e realizam hoje em dia diversas tarefas, compartilhando com seus companheiros ou companheiras o cuidado com o lar.
Assim, penso nas inúmeras propagandas em que somos representadas na publicidade, só aparecemos como mulheres sensuais como uma Gisele Bündchen personificando a mulher sonsa, mas que compensa sendo sensual a ponto de persuadir o marido de que ela pode dar uma pirada básica estourando os cartões de crédito ou a Juliana Paes, "A BOA", da campanha da cerveja, parceira de boemia.
Os corpos que hoje trabalham representando em torno da metade da força de trabalho e recebem salários menores por pertencerem ao gênero feminino são os mesmos que lutaram por transformações na sociedade e conquistaram direitos como o votar e ser votada, escolher trabalhar fora de casa em outras profissões que não as de serviço doméstico ou cuidados com crianças, como antes permitia a formação em escola "normal". Conquistaram também o direito ao divórcio, a adoção sem ter um parceiro, enfim... esses mesmos corpos continuam sendo tratados como objetos, enquanto permitirmos que nossa cultura não se modifique. Você escolhe o que quer ser quando crescer, não precisa engolir o que querem que você seja.
Quando pararmos de consumir aquilo que é vendido utilizando nossa imagem de maneira que nos desagrada, acredito que o mundo da publicidade se verá obrigado a passar por uma reciclagem. Até porque, sabe-se, nós mulheres costumamos dar a palavra final na hora das compras da família, pois conquistamos o direito de ter opinião e devemos fazê-la valer.
Quem propôs a blogagem coletiva foi a nossa querida amiga Silvia Azevedo, do blog Uma Pitada de Cada Coisa.
Assim, crescemos incorporando, literalmente, a identidade, aquilo que nos define, como se fosse única, engessada. E, se não questionamos os estereótipos, acabamos por reproduzi-los! As roupas de crianças, então, mostram o quanto as meninas e meninos (talvez menos eles do que elas) se vestem como mini adultos, coisa que me recuso a fazer com minhas crianças. Porém sei que não sou a única influência que elas têm e que em uma sociedade que produz cosméticos, calçados, acessórios, enfim, todo um ambiente propício ao consumo que é estimulado com seu bombardeio via meios de comunicação, é importante questionarmos com as crianças essas posturas fixas, como "menino não usa cor de rosa", "menina não pratica determinados esportes nem usa certas roupas" e muito mais.
Mas, quando nem chegamos à vida adulta, a coisa fica ainda mais cruel! As revistas femininas são sempre com capas de folhas cheias de modelos magérrimas, com expressões felizes, posturas poderosas, de quem está segura de si, coisa que justamente uma adolescente não é em relação ao próprio corpo, que está se desenvolvendo. Então podemos pensar que existe uma ditadura da beleza magra - as estatísticas de cirurgias plásticas em adolescentes são ridiculamente altas, confirmando! -, mas essa ditadura surgiu de onde?
A publicidade não tira da cartola um discurso que não existe, mas se apropria de "teorias" que circulam em nossa sociedade! Os cenários/paisagens, o figurino escolhido vão dizendo quem somos, dando as regras do jogo, normatizando nossas vidas. Mas não somos obrigadas a aceitar quando dizem em uma propaganda de sabão em pó, que o cuidado com as roupas da família cabe à mulher apenas. Ou que a família padrão é aquela em que uma mulher sorridente serve o café da manhã quase flutuando enquanto um homem lê o jornal e as crianças faceiras e educadas, sem bagunçar, refletem o tipo de mãe que devemos ser, que ambiente devemos organizar e que educação devemos dar aos nossos filhos. - Os filhos de vocês são assim? E alguém aí me ensina a flutuar?
Talvez algumas das propagandas que mais me irritem sejam essas:
Mulheres neuróticas por limpeza... Mulheres que vivem em função disso, porém não dão conta de ter suas casas bem cuidadas. A série de propagandas da "Neura", uma personagem sem cor, com postura cansada e escabelada, contrasta com a das mulheres "cuca-fresca", libertas pela existência de um produto inovador e que não demanda esforço para obter os resultados desejados - ahãmmmm.
Quando não estão vivenciando sua neurose, elas estão cercadas de homens, pois parece que, então, "ter tempo para sua vida" significa necessariamente constituir família. - E quem disse que tem de ser assim? Uma mulher só pode ser realizada se tiver marido e filhos?
Ter tempo para a sua vida pode significar isso e muito mais!
Além disso, me incomoda pensar que nunca aparece um homem realizando tarefas domésticas, sendo que, sim, os homens são capazes e realizam hoje em dia diversas tarefas, compartilhando com seus companheiros ou companheiras o cuidado com o lar.
Assim, penso nas inúmeras propagandas em que somos representadas na publicidade, só aparecemos como mulheres sensuais como uma Gisele Bündchen personificando a mulher sonsa, mas que compensa sendo sensual a ponto de persuadir o marido de que ela pode dar uma pirada básica estourando os cartões de crédito ou a Juliana Paes, "A BOA", da campanha da cerveja, parceira de boemia.
Os corpos que hoje trabalham representando em torno da metade da força de trabalho e recebem salários menores por pertencerem ao gênero feminino são os mesmos que lutaram por transformações na sociedade e conquistaram direitos como o votar e ser votada, escolher trabalhar fora de casa em outras profissões que não as de serviço doméstico ou cuidados com crianças, como antes permitia a formação em escola "normal". Conquistaram também o direito ao divórcio, a adoção sem ter um parceiro, enfim... esses mesmos corpos continuam sendo tratados como objetos, enquanto permitirmos que nossa cultura não se modifique. Você escolhe o que quer ser quando crescer, não precisa engolir o que querem que você seja.
Quando pararmos de consumir aquilo que é vendido utilizando nossa imagem de maneira que nos desagrada, acredito que o mundo da publicidade se verá obrigado a passar por uma reciclagem. Até porque, sabe-se, nós mulheres costumamos dar a palavra final na hora das compras da família, pois conquistamos o direito de ter opinião e devemos fazê-la valer.
Quem propôs a blogagem coletiva foi a nossa querida amiga Silvia Azevedo, do blog Uma Pitada de Cada Coisa.
7 pitaco(s):
E como é difícil mudar esses pensamentos!!! Acho horríveis as propagandas de cerveja que só mostram modelos, lindas e maravilhosas, as quais na maioria das vezes nunca tomaram uma cerveja na vida!!!
Bjos
Ana
Excelente post! Mesmo tendo evoluído muito e sendo considerada uma das melhores propagandas do mundo, a propaganda brasileira ainda dá suas 'mancadas'. É muito mais fácil usar o estereótipo do que criar... Nada se cria, tudo se copia! E copiar a vida real, então, é mais fácil ainda!!!
Querida amiga, sabe muito bem que tenho 2 meninos e falo com experiência, não são somente as meninas que sofrem com estes rótulos absurdos. Quando o Augusto tinha 5 anos resolveu pedir na escola para fazer aulas de Ballet, imagina!!! isso foi motivo de reunião com pedagoga, professora etc. Nossa posição (marido e eu) ele pode fazer sim, pois isso não vai mudar a opção sexual de meu filho. Resultado fez duas aulas e pediu para parar pq só tinha meninas. Atualmente estou com um par de patins "novinhos" para vender, os 2 fizeram patinação por 2 anos e não aguentaram a pressão dos "amigos", chamavam de frutinha, gay etc. Pq uma menina não pode brincar de carrinho? pq um menino não pode fazer patinação? Minha esperança é que estes rótulos e atitudes estejam com dias contados, pois nossa geração já está tentando mostrar isso para a geração futura. Sobre publicidade... Nem vou comentar, pois este modelo ainda está trazendo muito dinheiro a estas empresas e infelizmente o que esta dando certo não será mudado.
Beijos
Cris
Ingrid,vc tocou em um ponto muito bom,como projetamos esta imagem feminina para nossos filhos,podemos consertar daí...
Aqui os dois ajudam,boto Daniel para varrer casa e ele quer sempre lavar a louça,rsrsrs ñ sei até quando...
É o que disse ou somos devassas ou amélias,descabeladas e barangadas...comentei isso outro dia com uma amiga, ñ acredito que alguém saia feliz após lavar um banheiro,passar uma pilha de roupas,e me recusaria a beber(caso bebesse) uma cerveja que só mostra mulheres gostosas, elas não ficaram assim bebendo,e os homens não ficam gostosos bebendo cerveja,rsrsrs
Bjs e que bom q vc participou...
É isso mesmo, só que depois que crescemos que entendemos toda essa manipulação. E valeu o que vc disse: nossas escolhas tem muito poder sim, vamos exercê-lo!!
Bj!!
Ainda bem que existem pessoas que não se deixam manipular (pelo menos não facilmente) pela publicidade. Gostei do seu post (vi o link no Uma Pitada de Cada Coisa).
Ingrid, Ingrid, como sempre textos profundos e cheios de opinião bem embasada. Acho que essa frase é um dos ápices do seu texto: "Você escolhe o que quer ser quando crescer, não precisa engolir o que querem que você seja.".
É assim que tento seguir. Quase não assisto mais TV, mas quando assisto sei bem que os "inovadores" produtos de limpeza não são tão mágicos quanto aparentam, e muito menos que aquelas mulheres refletem a realidade. Tenho consciência do que "rola" em nossa sociedade; e como a Cristiane comentou acima, a publicidade gira em torno de "grana", e tudo o que envolve dinheiro... você sabe, né?
Enquanto isso, seguimos em frente, criando nossos filhos de modo menos preconceituoso e estereotipado possível, guardando nossas preocupações mais para a saúde, felicidade e boa educação das crianças. :)
Parabéns e muito, mas muito mesmo, obrigada por participar da blogagem! Admiro você! ;)
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